quarta-feira, março 23

Subúrbios

Encontrei-te nos subúrbios dos meus pensamentos, cruzaste o meu caminho quando eu achava que andava perdido. Não sei se também andavas à procura do teu caminho ou se tinhas um rumo definido. Muitas vezes penso que tudo aconteceu numa pista de carrinhos de choque, onde tocavam bem alto uma música qualquer dos National. Sei que não chocamos propositadamente, mas sei que alterei o teu rumo e tu alteraste o meu. No fim, olhaste para mim não com ar de raiva mas sim contemplaste-me bem fundo nos olhos à espera dum cumprimento, dum mimo ou dum pedido de desculpas, por ser desastrado. Isto de ser desastrado gera empatia feminina ou repulsa, creio não haver meio termo.
Enquanto aquela ficha proporcionou, acelerei loucamente pela pista, ou atrás de ti ou atrás da tua atenção. Quando fecho os olhos ainda consigo sentir a brisa na cara e o adormecimento das luzes que insistiam em encadear-me, em me deixar ainda mais confuso com tudo. As outras pessoas, nada nos diziam, aquela volta na pista parecia um momento a dois, mais nada importava. As outras pessoas partilhavam a nossa pista e respiravam o mesmo ar, mas eram meros figurantes.
Uma campainha estridente congela a pista e está na hora de saltar fora e cair no mundo real. Saltei fora da pista, saltaste fora da pista e era o tudo ou nada. Devia tratar-te como uma desconhecida que cruzou comigo uns minutos, ou deveria acalentar mais de ti ou de mim. Arrisquei..
Não sei se deva voltar à pista, temo sempre voltar às memórias ou aos sítios onde já fui feliz. E sim, fui feliz naqueles minutos que durou o giro.