quinta-feira, maio 15

A janela (que abriste)

Uma janela aberta serve de ligação ao resto do mundo. Enquanto, uma brisa sacode o quarto, em lufadas de ar inconstantes e imprevisíveis. O lençol branco por momento destapa dois corpos abraçados numa união harmoniosa. Centelhas de beijos são trocados, pensamentos e sensações diferentes rodopiam em torno de cada corpo. Tomei-te por uma aventura perdida, como tinha feito com tantas outras. Para ti, fui a droga que já experimentaste e que ainda te traz amargura.
Ainda penso como é que o acender de um cigarro, pode moldar para o mal e para o bem a vida de uma pessoa. A noite é algo especial, parece que o álcool e o sono, afunilam a ligação ente a nossa alma e o corpo. As defesas baixam e os medos arrefecem com o amanhecer violento. As pessoas tocam-se mais, soltam palavras menos pensadas e daí ao paraíso ou abismo, a distância é incrivelmente curta. Mas a vida é mais real à noite? Não sei, a escuridão leva a ausência de cores nas ruas, transformando tudo num cenário a preto, algum cinza e muito pouco branco – as fotografias a P&B mostram a alma e retiram a pretensão destrutiva que a cor vende. Sinto que a luz do dia é razão para distrações e preocupações concentradas, que por vezes, nem o coração permite ouvir. A luz também ajuda a que as pessoas se distraiam com o parecer e pouco com o ser. O dia esconde o nosso interior e a noite destapa – o.
És diferente, uma bela mulher e ainda conservas o traço de um corpo de adolescente. Também tu, ficas confusa com a cor do dia, esta levanta as tuas defesas e ressuscita as tuas amarguras ou medos. O teu olhar de sono, significa o chegar da ternura – a procura infindável do carinho e mimo. Tiras as tuas vestes e deixas aproximar-me mais de perto. Mas sabes que não é fácil para mim saber onde parar – o 8 ou 80 para mim, é igual à distância entre a minha loucura e o meu ar saudável. Não imagina o meu esforço! Como me tenho de fingir (por vezes) para não parecer um adolescente louco, obstinado e perdido no meio da caminhada.
Tal como eu, és irremediavelmente selvagem, não reconheces um pouso. Receias perder a Ana que és (conheces), e que alguém te aprisione em grades de sentimentos, que já quase te mataram (à fome). Adoras a liberdade do poder ser, de vislumbrar os homens bonitos que por ti passam, fantasiando como seram as suas vidas. Adoras fugir da rotina e de seres livre, quando escurece. Imagino o teu dilema! Eu, um eterno solitário, que se distrai facilmente com um bom livro, que por vezes olha sem olhar, é procurado sem procurar e que corre por impulso. Vivo com muito pouco alimento para o meu coração: a minha escrita e a fotografia do meu mundo bastam-me. Ainda tem dias, que acho ser talhado para a solidão, mas agora que te conheci, deixei de o querer. Mas o tempo ainda não me permite deixar de cantarolar o hino dos homens temporariamente sós, mesmo quando vislumbro o teu reflexo.
O tempo voa nos momentos que partilhamos e sabe sempre a muito pouco. Se, um dia o teu relógio obstinadamente parar, só tens que pedir para sair da tua vida. Combinado?